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DESTAQUE DO MêS DE DEZEMBRO - 28.12.2011 às 05:32:04

Por: Maria Conceção Monteiro Ribeiro

“Meditação no presépio”

Quando São Francisco de Assis inventou o primeiro presépio, e falou das coisas do céu numa gruta, dizem que, ao ajoelhar-se, desceu-lhe aos braços estendidos um Menino todo de luz. O Santo Poeta colocara ali apenas umas poucas imagens: as da Sagrada Família, a do irmão jumento e a do irmão boi. O áspero cenário de pedra tinha a nudez franca da pobreza, a rispidez dos desertos do mundo, o recorte bravio dos lugares de sofrimento. Aí, o Menino de luz pode descer, porque ele vinha para ensinar caminhos difíceis, e restituir às coisas naturais da terra o sentido da sua presença na ordem universal.
O amor humano é um perigoso jogo. Por amor, os homens foram construindo presépios ao longo do mundo, e já não lhes bastava a pedra desguarnecida: queriam recobri-la do ornamento da sua devoção. Trouxeram folhagens e flores, dispuseram frutos e pássaros, desceram o céu, num pálio de seda azul, colheram as estrelas, dos ramos que se alongam na noite. Caçaram a lua, no meio da sua viagem, e pescaram o sol, redondo peixe de nadadeiras flamejantes...
E nesse esplendor de fitas e rendas... até se recordou que o Menino não podia estar ali despido como simples deus humanado – e teceram-lhe camisinhas e envolveram-no em brancas sedas...
Mas, na verdade, a parede do Presépio deixara de existir. O que havia eram muitas paredes, de palácios e de mosteiros, de chácaras e de cozinhas de quartéis e de fábricas, de lojas e de manicômios.
Porque essa humanidade se arruinou e adoeceu, esqueceu-se que a oferenda não lhe pertencia, e estendeu a mão para alcachofra e para a lagosta, para o cavalo do guerreiro e a coroa do suserano, e o que tocava cítara quis brandir espada, e o que varria o estábulo apoderou-se da cítara...
E aquilo que foi um Presépio era um mundo de contradições, sem equilíbrio nem sentido. Os profetas eram alucinados – e as Sibilas, dementes; os reis, uns conquistadores mesquinhos; os guerreiros, uns assassinos convictos...
Mas quando tudo ruir completamente, - porque sempre chegam novos forasteiros ao Presépio, e cada um se diz o único verídico, o mais sincero e o mais poderoso, o mais rico e o mais fiel – quando tudo ruir completamente, o Menino continuará na sua gruta, com a sua família humilde, o irmão boi e o irmão jumento, para recomeçarem a vida, na simplicidade humana das coisas naturais e universais.
E se outro São Francisco se ajoelhar na gruta rústica, o Menino virá todo em luz aos seus braços, porque só o Santo Poeta entendia dessa irmandade geral do céu e da terra, e da graça de todos os despojamentos, e da alegria de não precisar ter, pela contemplação de todos os enganados, e da leveza da vida em expressão absoluta.
“Cecília Meireles – Texto do livro Obra em Prosa”

 Anexo:  2011.12.28-SDC1433411.jpg

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