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CRíTICA AO ESPETáCULO "CECíLIA E OS 40 FANTASMAS", POR BETH NéSPOLI - 15.11.2015 às 10:10:06

Por: Assessoria de Comunicação

Cecília e os 40 fantasmas, um medo que só diverte

Voltado para o público infantil, o espetáculo Cecilia e os 40 fantasmas tem como cerne de sua temática o medo. A abordagem não está em um temor bem delineado com origem em uma realidade específica, como podem ser, por exemplo, os temores enfrentados por crianças que vivem num país em guerra, em situação de pobreza extrema ou ainda o terror das crianças que sofrem violência doméstica. A infância, sabemos, não necessariamente é um período só de encantamentos.
Mas Cecília e seu irmão, a dupla de protagonistas da montagem, são representantes de classe média que parecem só se sentir ameaçados de fato quando sua mãe acena com a possibilidade de tomar-lhes tablets e smartphones. Com tal desenho de personagens, as autoras Necylia Monteiro e Nicolle Machado, esta última também assina direção, trabalham com um sentimento ancestral que quase toda criança experimenta: o medo daquilo que pode sair da escuridão quando se está só. O pavor do desconhecido, daquilo que parece se esconder nos desvãos da casa e da mente – os fantasmas que saem do armário da nossa imaginação e nos assaltam, e assustam, durante o sono.
Logo de saída o público é informado que Cecilia e seu irmão fazem parte de uma família circense. Informa é a palavra porque, vale dizer, nada na rotina da dupla de irmãos os diferencia de meninos comuns: deitam nas suas camas, ouvem bronca da mãe por ainda estarem acordados, temem os fantasmas que moram no armário do quarto. E como muitas meninas Cecilia tem um irmãozinho chato disposto a manipular fantasmas, verdadeiros ou falsos, para zombar do medo alheio e se proteger da própria covardia.
Se o mote do circo não altera a família, por outro interfere na estrutura da trama. Não se encena uma fábula desenvolvida pelo encadeamento de ações. Como fio condutor há apenas um roteiro, não uma história, que amarra uma colagem de números que se sucedem como no picadeiro. Da cena de um domador e seu leão, na abertura, passando pelos números musicais, tudo é criado com o objetivo explícito de divertir o respeitável público.
Na abertura, os atores passam pela plateia cantando e dançando e, ao chegar ao palco, correm de um lado para o outro em mútua perseguição, sem qualquer motivação, a não ser arrancar risos da plateia. Procedimentos como incitar o público à participação por meio de palmas ou de gritos para avisar que os fantasmas estão próximos do personagem, já tornados clichês das peças infantis, marcam presença ao longo de toda a montagem. E ainda provocam risos e animação, ainda se manifestam, talvez o motivo da permanência.
Desde os parques de diversões aos programas de televisão, muitos são os espaços nos quais o espectador mirim pode encontrar entretenimento. Assim, teatro e público saem ganhando quando o palco se torna lugar de uma criação poética aguda o suficiente para interferir no imaginário infantil de modo a estimular conexões inusitadas, um encantamento ainda não experimentado ou oferecer elementos que possam ser articulados nas demandas que afligem o seu dia a dia.
Um bom momento de Cecília e os 40 fantasmas está na sequência de gestos da mãe que tenta fazer a filha voltar a dormir, um desenho que parte do zelo excessivo para a impaciência extrema. É uma das raras cenas, talvez a única, em que a representação deixa de ser só frontal e a marcação escapa do binarismo (caminhadas da direita à esquerda do palco, e vice-versa), predominante na montagem. Uma cena que pode ter potencial para levar os pequenos a projetar nela o comportamento de seus próprios pais e, talvez, aprender algo sobre essa relação, para além dos próprios umbigos.
Se a proposta do espetáculo é o entretenimento pura e simples, ele consegue esse objetivo, afinal, arranca gargalhadas das crianças e as leva a interagir. Mas desperdiça a oportunidade de tratar com mais contundência e amplitude um tema tão importante para o imaginário infantil, público alvo da montagem. Arte exige escavação na alma, agudeza crítica sobre a realidade e cuidado na elaboração da forma – qualquer que seja a faixa etária do público alvo.

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