Por: SECMA
Livro: "Cofo, tramas e segredos"
112 páginas, cor
Edição: Comissão Maranhense de Folclore, 2009
"Cofo, tramas e segredos"
"Cofo é o nome dado, no Maranhão, à cestaria de natureza utilitária, confeccionada manualmente com as folhas de palmeiras nativas. No dia-a-dia do maranhense, o cofo é um instrumento já “tradicional” e mesmo indispensável. Ainda que muitas vezes invisível para muitos (...)." (pag.11)
A iniciativa de reconhecer e difundir a importância e o valor econômico e simbólico do cofo para outros circuitos se deu a partir da união de forças de instituições e profissionais com interesse pelas diversas práticas e expressões da cultura popular. Longe de esgotar o tema, essa experiência se materializou num conjunto de registros com cerca de 1800 fotografias, 13 relatórios e 72 entrevistas feitas com homens e mulheres que através de seus conhecimentos e histórias, dão cor, textura e sentido a esta publicação.
Com o patrocínio do Programa BNB de Cultura e o apoio da 3ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Maranhão e do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, a Comissão Maranhense de Folclore através de uma equipe formada por antropólogos e pesquisadores, percorreu cidades e localidades em seis regiões do Maranhão, em busca de registros sobre conhecimentos desenvolvidos e repassados ao longo de gerações.
"Eu aprendi sozinha mesmo com idade de oito anos. Olhando assim, eu começei a fazer, mal feito, né? E aí eu fui, olhando o jeito dos outros, quando pensei que não, eu aprendi a fazer muito direito." Gardênia de Oliveira, Cachoeira, Codó. (pag. 47)
"Quando eu tinha meu pai, eu era danado pra ir pescar. Um dia eu pedi‘papai, me ensine fazer um cofo aqui’. Ele me ensinou a primeira vez,eu não acertei. Quando foi na segunda vez ele tirou o talo do cofo e me largou pela cabeça. Aí eu disse ‘não, papai, desse jeito eu não vou aprender’. (Risos) Larguei lá, quando foi de noite os colegas vieram com vontade de ir pescar... E eu sem poder ir no igarapé porque não tinha um cofinho. Aí eu pulei, rapaz, pelejei de noite, até Deus e Nossa Senhora ajudaram e eu acertei fazer por mim mesmo. Aí eu não me esqueci mais, fiquei fazendo cofo todo tempo." Arlindo Trindade, Central do Maranhão. (pag. 47)
A reflexão feita neste livro está apoiada em trabalho de campo que se desenvolveu entre os meses de junho de 2007 a janeiro de 2008. Inicialmente pensadas para ser realizadas em 12 municípios, as viagens expandiram-se para 24 localidades em diferentes regiões do estado, escolhidas devido à marcante utilização do cofo nas atividades cotidianas. A saber: Alcântara, Axixá, Bacurituba, Carutapera, Caxias, Cedral, Central do Maranhão, Codó, Cururupu, Guimarães, Icatu, Itapecuru-mirim, Matinha, Mirinzal, Morros, Pinheiro, Porto Rico do Maranhão, Raposa, Rosário, São Bento, São Luís, Viana.
Além da produção deste livro o Projeto Cofo de Segredo nos permitiram realizar uma série de palestras, oficinas e exposições itinerantes pelo interior do Maranhão, além de adquirir e incorporar novos exemplares de cofos ao acervo da Casa de Nhozinho, disponibilizando este conhecimento para um público mais amplo. Para nós este é apenas o primeiro passo no sentido de valorizar e estimular a continuidade e o repasse dos conhecimentos sobre as técnicas de manufatura de cofos e contribuir para que estes artesãos não sejam mais deixados no anonimato.
"Pois é, (...) se eu tivesse precisão de fazer um cofo pra arrumar casamento (pgs 24/25), tava lascado. Me lembro do povo fazendo no Sítio Grande da Maioba, em Bequimão, no Axixá, já se vão mais de 30 anos. Impressionava-me a rapidez do modo de fazer e do resultado perfeito. O Filipinho na década de 60 era povoado de cofos. Dos vendedores em geral que vendiam de porta em porta. Os preços sendo negociados na hora. Mas os que mais impressionavam o meu olhar de criança, eram os de caranguejos. Parecia que o cofo paria aqueles animais misteriosos e ameaçadores. Adorava quando meu pai trazia os paneiros de farinha de Carema, com a tênue pele de bananeira ressecada no topo. Os cofos com bacuri, com jussara, murici, cajus que recendiam a distância, que delícia! Que lindo livro, (...). Estou saboreando-o aos poucos, pois que ele toca os sabores da memória, das imagens, das saudades..." Cristiano Mota, por email para a equipe do projeto, Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2009.
Realização: Comissão Maranhense de Folclore
Apoio: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Superintendência do IPHAN no Maranhão / MinC
Patrocínio: Banco do Nordeste
Coordenação Técnica: Jandir Gonçalves e Wilmara Figueiredo
Coordenação Editorial: Andréa Falcão
Pesquisa e texto: Jandir Gonçalves, Weeslen Lima e Wilmara Figueiredo
Fotografias: Francisco Moreira da Costa, Jandir Gonçalves e Weeslen Lima
Projeto gráfico: Andréa Falcão e Alexandre Salomon
Colaboradores: Donivaldo Pires, Silvaney Ribeiro Pereira e Vanessa Oliveira da Silva
Artesãos entrevistados: Ana da Graça Lozeiro Silva, Antônia Nascimento, Antônio José, Arlindo Pereira da Silva, Arlindo Trindade, Benedito Teixeira, Bento Ferreira Lima, Bernardino Damascena Pereira, Catarina Eduvirges Pereira, Domingos dos Santos Filho, Domingos Ferreira de Oliveira, Domingos Moraes, Domingos Nascimento Martins, Domingos Soreano França, Edimilson Nunes Ferreira, Edson Costa Bastos, Elídio Rodrigues Santos, Emanuel da Cruz Coelho da Silva, Enéas Manoel de Jesus do Vale, Enoque Fontes, Erlindo Sousa da Silva, Filomeno Araújo Barros, Francisco Ferreira de Sousa, Gardênia de Oliveira, Geraldo Moreira Braga, Gonçalo de Jesus Lima, Gonçalo Ferreira, João Batista da Cruz, João Moreira, João Pereira Costa, João Sousa Pereira, Jonas Moreira da Costa, Jorge de Sousa Santiago, José Almir Goulart, José Antônio Fonseca Sousa, José Armando da Silva, José Augusto, José da Ascensão da Silva, José da Cruz, José de Ribamar, José de Ribamar Pereira Pinheiro, José Goulart, José Loiola Gonçalves Ferreira, José Ribamar Palhano, José Rodrigues dos Santos, Josivaldo Casteliano Rocha, Jurandir Mota, Justo Correia Almeida, Manoel de Jesus Sousa Reis, Manoel dos Santos, Manoel Pedro das Chagas, Manuel da Silva, Marcelino da Silva, Maria da Conceição R. dos Santos, Maria da Saúde, Maria Domingas Furtado Costa, Maria Lúcia da Silva, Maria Otávia Monteiro Silva, Maria Pastora Santos, Mário Vieira Campelo, Matias Silva, Nemésia Silva Rocha, Nivaldo Fróes Frazão, Onília Vieria do Nascimento, Paulo Sérgio Melo Marques, Pedro Arão Campos, Pedro dos Santos, Pedro Vieira da Silva, Raimunda Bárbara Silva, Raimundo Leal, Raimundo Miranda Lima, Raimundo Nonato Gomes Araújo, Sabino Silva, Sebastiana Leal, Tomás de Aquino Ribeiro.
"Eu agradeço a você, por levar essa imagem nossa, é do fabricante do cofo, né? Que é o cara, que é o artesão, no caso, né? Do cofo. Então eu agradeço, muito obrigado, estamos a sua disposição. Você já tem meu endereço, se você quiser chegar lá pra verificar. Porque tem aquela velha estória, né? Conta quem vê de perto pra contar de certo, né?" Marcelino da Silva, Icatu. (pag. 111)
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