HISTÓRIA
Em pleno ciclo do algodão maranhense, no ano de 1815, dois comerciantes portugueses desejosos de assistirem espetáculos de arte dramática e música lírica de qualidade e em condições adequadas, aqui mesmo em São Luís, a exemplo do que assistiam em Lisboa, decidiram edificar um grande teatro do mesmo porte das casas de óperas da Europa. Eram eles Eleutério Lopes da Silva Varela e Estevão Gonçalves Braga.
A planta original do que seria esta grande Casa de Espetáculos, previa uma fachada para a Rua da Paz e a principal para o Largo do Carmo. A igreja reagiu e, com o pretexto de ser antirreligiosa a construção de um teatro ao lado de uma igreja, afrontando seus valores, pediu o embargo da construção.
Com uma sentença favorável aos padres carmelitas, o Teatro começou a ser construído em 1816 com sua fachada principal voltada para a rua do sol, com todas as condições negativas que se conhece: o prédio ficou espremido entre outras construções, sendo as ruas da frente e da lateral, de alta circulação automotiva com os barulhos consequentes e perturbadores, além das dificuldades para estacionamento.
Este teatro não seria o primeiro e sim o quarto a ser construído na cidade de São Luís, entre 1780 e 1816. Todos de pequeno porte e sem os espaços e conforto adequados. E assim, em apenas um ano de construção, entre 1816 e 1817, dois empreendedores privados constroem um prédio de tamanha monumentalidade para a época. Isto há 199 anos e até o presente momento, nenhum outro foi construído pelo poder público igual ou maior e a cidade não tinha nem um quinto da população atual.
Edificado em estilo arquitetônico neoclássico, constitui-se no único exemplar verdadeiro desse estilo em São Luís. No Brasil, o neoclássico foi difundido com a chegada da missão artística francesa, trazida por Dom João VI em 1816. No Rio de Janeiro, a primeira edificação no estilo neoclássico só ocorreu em 1819.
Nascia assim o Teatro União, inaugurado em 1º de junho de 1817, dois anos após a inclusão do Brasil ao Reino Unido de Portugal e Algarves, fato que originou o nome do prédio. O projeto era grandioso. Na época, São Luís era a quarta maior cidade do Brasil e os 800 lugares do teatro representavam 5% da população local.
Em 1852, o Teatro União passaria a se chamar Teatro São Luiz e, em 1854, serviria de berço para Apolônia Pinto, filha de uma atriz portuguesa que entrou em trabalho de parto em pleno teatro. No camarim número 1, nascia uma das grandes atrizes do teatro brasileiro, que já aos doze anos encantava plateias com a peça "A Cigana de Paris". Este mesmo ano é marcado pelo primeiro baile de máscaras de São Luís, à época um evento de grande repercussão. Os restos mortais de Apolônia Pinto estão guardados no próprio Teatro, no piso térreo, em um nicho dá acesso à plateia. Lá, a atriz foi homenageada, ainda, com um busto em bronze e uma placa alusiva à sua brilhante trajetória cultural, localizada no próprio camarim nº 1.
O nome Teatro Arthur Azevedo, viria na década de 20 em homenagem a um importante teatrólogo maranhense. Desde então, o lugar enfrentou momentos de crise e chegou a funcionar como cinema, além de sofrer restaurações que acabaram por descaracterizar alguns de seus elementos. Na década de 60, o governo do estado pôs fim ao contrato com a empresa cinematográfica que o havia arrendado.
Apolônia Pinto
Se o teatro brasileiro tem Fernanda Montenegro como sua primeira dama, o que dizer de Apolônia Pinto em relação ao mundo cênico maranhense e nacional? A resposta vem em placas. Todas duas imortalizadas no camarim nº 1 do Teatro Arthur Azevedo. Apolônia Pinto, atriz maranhense reverenciada graças a uma dádiva ocorrida há 146 anos. No dia 21 de junho de 1854, nascia nos bastidores do antigo “União” e “São Luiz” – os dois primeiros nomes do Arthur Azevedo – a insubstituível atriz maranhense. Seu pioneirismo e sua genialidade logo a transformaram na maior atriz do país.
Ainda menina, aos doze anos, Apolônia já se preparava, no mesmo camarim que nasceu, para viver o papel da ingênua de “A Cigana de Paris”. Resultado: um sucesso. Em seus 83 anos de vida ficou conhecida como a maior intérprete das paixões humanas da ribalta nacional. Apolônia foi atriz numa época em que não havia mídia, patrocinadores e cachês. Trabalhava por amor à arte. Os artistas viviam de doações: joias, pedaços de terras ou animais.
Arthur Azevedo
Mas nem por isso seu trabalho deixou de ser reconhecido. Onze anos depois da sua morte, em 1948, alguns jornalistas já se preocupavam com sua memória e seu acervo histórico-cultural. Exigiam que o camarim nº 1 do Teatro Arthur Azevedo fosse transformado em Museu Apolônia Pinto. Em 1966, seus restos mortais foram trazidos para São Luís e depositados no próprio TAA, onde existem um busto da atriz e uma urna contendo seus ossos. Vida eterna ao Teatro. Para sempre primeira dama.
Considerado por muitos como o primeiro comediógrafo brasileiro, o maranhense Arthur Nabatino Gonçalves Belo de Azevedo (1855 – 1908) teve seu interesse pelas letras manifestado bem cedo. Prosador, poeta, dramaturgo, comediógrafo, crítico e jornalista, ele iniciou sua literária com o livro de poesias Carapuças. Nesta época já dirigia a revista O Domingo.
Em 1873 decide ir residir no Rio de Janeiro e na Corte se torna adido em 1874 à Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Obras Públicas. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupou a cadeira de n° 29, patrocinada por Martins Penna.
Mas para podermos compreender como Arthur Azevedo chegou a se tornar um dos maiores nomes da dramaturgia desse país, voltemos um pouco no tempo. Criado na praia do Caju em meio a pescadores, seus pais, David Gonçalves Azevedo e Emília Amália Pinto de Magalhães, para evitar contato com o ambiente perigoso da praia, improvisaram no salão dos fundos de sua casa um teatrinho com palco, cenário e plateia, escrevendo ele as peças e ela a parte musical. Do teatrinho tomavam parte os filhos já crescidos: Arthur, Aluísio e Américo.
Não podendo resistir à atração teatral, sempre que havia companhia lírica, Arthur fugia do seu trabalho para o Teatro sem ser notado pelo patrão que dormia. Uma noite, porém, foi preso por ter mandado distribuir folhetos que falavam mal do presidente da Província. Resultado: o patrão chamou o pai de Arthur e dispensou o rapaz do emprego. Enviado ao Rio de Janeiro, onde após alguns meses, conseguiu pequena colocação, continuava a escrever peças teatrais, contos, novelas e poesias.
Entre seus folhetins de crítica teatral destaca-se O Teatro, publicado no jornal A Crítica, entre setembro de 1894 e outubro de 1908. Ainda sobre o mesmo tema poderão ser encontrados artigos em o Diário do Rio de Janeiro, Gazeta da Tarde, Correio do Povo, O Século, Diário de Notícias, Novidades e O País. Embora jamais tenha se considerado crítico teatral, exerceu regularmente esse gênero paraliterário nos semanários O Mequetrefe e O Teatro.
Seu teatro, cujo cenário em sua maioria é o Rio de Janeiro, mostra principalmente, com riqueza de detalhes, como vivia a geração da belle époque fluminense, suas fraquezas e heroísmos, preferências, diversões e medos. Exceções de cenário são: “Uma Véspera de Reis” (1875) que se passa na Bahia, “A Casadinha de Fresco” (1876) cujas ações tem como palco o Rio Grande do Sul e “Herói à Força” (1886) cuja história se passa em Pernambuco.
Sua primeira revista-de-ano recebeu o nome de O Rio de Janeiro em 1877. Seguiram-se O Carioca (1887), A Capital Federal (1897) e Guanabarina (1906). Arthur Azevedo sempre estimulou o surgimento de novos talentos, atraiu a colaboração de comediógrafos. Tanto é assim que um de seus mais assíduos colaboradores foi Moreira Sampaio com quem escreveu a quatro mãos as revistas-do-ano O Mandarim (1884), Cocota (1885), O Bilontra (1886), Mercúrio (1887), O Homem (1887) e O Genro de Muitas Sogras, que só seria editada em 1956.
Sua campanha contra o suicídio atesta seu amor à vida e explica porque só chegou a escrever três dramas: O Liberato (1881), O Anjo da Vingança (1882) e O Escravocrata (1884), todos criados em nome da solidariedade humana que atestou durante sua vida ajudando artistas da época, envelhecidos, que não tinham a quem recorrer e alimentando os filhos, enteados e órfãos dos mesmos.
Há de se lembrar que muitos dos originais de Arthur Azevedo estão perdidos. Pesquisas realizadas na Biblioteca Pública de São Luís levaram à descoberta de cinco manuscritos, alguns já mutilados, pertencentes à Coleção Arthur Azevedo, adquirida em 1910, pelo Governo do Estado do Maranhão, juntamente com sua famosa coleção de gravuras e rica pinacoteca. Assim vez por outra se encontram em bibliotecas peças que são atribuídas ao autor maranhense. Entre as que se tem notícia de encenação, mas se encontram perdidas temos: Tal Qual Como Lá (1880), A Mulher do papá e O Pimpolho (1881), Os Três Boticários (1882), Joanico (1893), Totó (1894), Vade retro, Satanás! (1897), O Paraíso (1898) e Fui Ver o Sarcey (1899), entre outras.